“B.-P. comparou os escoteiros de hoje aos cavaleiros de
antanho, uma vez que, uns e outros, se
submetem voluntariamente a um compromisso, adoptam uma Lei ou Código de Honra e
se entregam abnegadamente à prática do bem e da Virtude e, particularmente, ao
serviço dos que necessitam de auxílio e de ampara.
S. Jorge foi até há muito pouco tempo o único santo
cavaleiro, motivo por que se tornou o patrono desses homens de armas. É
igualmente o patrono da Inglaterra. Não foi este, é de crer, o mais frágil dos
motivos que tenham influído na decisão que fez com que S. Jorge se tornasse
também patrono dos Escoteiros. Embora subsistam fortes duvidas quanto á
veracidade da existência deste santo, a meditação sobre a história desta
lendária figura é necessariamente proveitosa, visto envolver uma lição em que a
generosidade e a valentia recebem um tributo de admiração e louvor.
Desenho de B.-P. |
Diz a tradição, que ocorria o ano de 303, quando nasceu s.
Jorge na Capadócia, uma antiga região, hoje situada na Turquia. Muito jovem,
alistou-se na Cavalaria, onde depressa se notabilizou, graças ao seu valor
Certa vez, encontrando-se em Silene, antiga cidade da Líbia,
soube de um acontecimento infame que ali diariamente ocorria: um dos seus
habitantes tirado á sorte, era oferecido, para ser barbaramente devorado, a um
horrendo dragão que existia nas proximidades. Só por esse processo aquele povo conseguia
aplacar a fúria do monstro!
Aconteceu que, logo no dia da chegada do cavaleiro, coubera a Cleolinda, formosa donzela, filha do rei, a
amarga sorte de ser sacrificada à avidez insaciável do hediondo ser. S. Jorge
ficou indignado, com essa deprimente situação, à qual ninguém ousava pôr termo,
tomados como estavam por um pavor paralisante. Mas o jovem cavaleiro
imediatamente prometeu a si mesmo tudo fazer, ainda que fosse com o sacrifício
da própria vida, para acabar com a ignóbil situação e evitar que a linda
princesa fosse imolada à voracidade do monstro. Dirigiu-se, portanto, ao
pântano onde o dragão vivia e aí, embora temendo os urros medonhos que a besta –fera
soltava: empunhando apenas a sua lança, trespassou-a com um golpe fulminante! Acabava
assim a terrível ameaça para o povo de Silene e estava salva a formosa princesa
Cleolinda
Louco de alegria por ver a filha poupada a tão horrível sacrifício,
quis o rei, logo, oferecer a S. Jorge a mão de Cleolinda. Mas o cavaleiro, que prometera solenemente a
si próprio, e perante deus, dar luta sem tréguas ao Mal, até o extirpar da
Terra, bem como de defender os fracos e os oprimidos, viu-se impedido de
aceitar a aliciante proposta. Teve de partir, não sem prometer voltar logo que
se encontrasse desincumbido das suas obrigações, para então desposar a bela
princesa.
Tal como S. Jorge, assim devem agir os escoteiros: Em face
de uma dificuldade ou de um perigo, não devem voltar as costas, nem se deixam
intimidar. Enfrenta-nos com determinação e energia até os vencerem, isto embora
eles lhes tenham preciso enorme e tenebrosos, ante os parcos meios com que
contam para lhes fazer face. Eis a atitude dos escoteiros sempre que seja
necessário correr em defesa do Bem, da Justiça e de quem careça de protecção.”
In “Na Senda do Escotismo” Manual Para Ser Escoteiro – 1.ª
edição 1985 (texto actualizado)
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