No ano em que a Associação dos
Escoteiros de Portugal comemora o seu centenário, ao participarmos nesta Conferência,
não pode a Fraternal Escotista de Portugal, que assume como seu todo o passado
histórico da ex-Fraternal dos Antigos Escoteiros de Portugal e, por força de
razão, as memórias do Escotismo em Portugal e, em especial as da AEP, deixar de
chamar a vossa atenção para, em rápidas pinceladas, lembrarmos algumas fases da
história dos Escoteiros de Portugal, pedindo o interesse de cada um de vós para
este assunto, pois os dirigentes de hoje não podem ignorar aquilo que fomos e o
que somos, uma vez que a história é o alicerce do futuro.
O “ALBUM DIGITAL” que a Fraternal
pretende construir é bem o exemplo do nosso interesse pela história associativa,
ajudando-nos a entender o processo de
transformação desta Associação ao longo dos tempos e a sua identidade, tarefa
para a qual continuamos a contar com a colaboração de todos.
Recordemos agora alguns passos dessa
história, que orgulha muitos de nós.
Anos
1913 / 20
Foi da reconhecida necessidade de
organizar o caos em que ameaçava transformar-se a entusiástica adesão dos
nossos jovens ao movimento recém-criado em Inglaterra, e na sequência de uma
brilhante campanha de divulgação de “O SÉCULO” e dos apelos de Melo Machado
para que fosse constituída uma entidade para dirigir o movimento em Portugal,
que nasceu em 6 de Setembro de 1913 a Associação dos Escoteiros de
Portugal.
A iniciativa, a competência, a ponderação,
o entusiasmo e o heroísmo, foram as marcas dos primeiros tempos do Escotismo em
Portugal:
O espírito de iniciativa de figuras
como: Álvaro Melo Machado, Robert Moreton, Rudolfo Horner, Frank Giles, John
Brown, António Sá Oliveira, Eduardo Santos, Eduardo Moreira, Ricardo Borges de
Sousa e Alfredo Tovar de Lemos valorizaram os primeiros passos da associação e
transmitiram-lhe dinamismo.
Os
primeiros tempos – competência e ponderação
As figuras prestigiosas que se
juntaram à AEP e a competência e ponderação que presidiram às decisões
associativas foram decisivas para a afirmação da Associação.
Além dos nomes ilustres já referidos,
ocorrem-nos ainda: Ernesto de Sousa, Francisco Caetano Dias, Júlio Ribeiro da
Costa, Luciano Silva, Abílio dos Santos e Joaquim Duarte Borrego.
Os
primeiros tempos – O entusiasmo e o heroísmo
Do entusiasmo dos primeiros passos, às
inúmeras intervenções cívicas em que os escoteiros participaram durante os perturbados
tempos das convulsões políticas e laborais que então se
viveram, onde a
abnegação, a atitude humanista e patriótica e a coragem dos escoteiros ganharam
elevado relevo foi todo um caminho de implantação dos verdadeiros valores do
Movimento com que B.P. nos dotou.
Humberto Martins, José Rodrigues, João
Clímaco dos Nascimento, António Xavier de Brito, Manuel Pereira, José e Manuel
Duarte Borrego, Cosme Vieira Leitão, Albano da Silva, Ralão, António Alves,
Ramiro, são alguns dos nomes que testemunham o entusiasmo e o heroísmo dos
escoteiros daquela época.
No entanto, o cansaço resultante do
empenhamento social, talvez excessivo, e os diferentes conceitos de orientação
associativa enfraqueceram a AEP, exigindo grandes sacrifícios pessoais que
projectam e dignificam as excepcionais figuras do Rev. Eduardo Moreira e do dr.
Alfredo Tovar de Lemos.
Anos 20: Prestígio e Reconhecimento
Prestigiada pelo público e reconhecida pelo
Governo, a AEP cedo se evidenciou como uma escola de formação para a juventude.
O dr. Alfredo Tovar de Lemos, sabendo rodear-se de bons colaboradores como
Dinis Curson, Apolinário Chagas, Alberto Lima Basto, Joaquim Duarte Borrego,
Franklim Oliveira, Fausto Salazar Leite, Edmundo Lima Bastos, Magalhães
Godinho, Joaquim Amâncio Salgueiro, o dr. João de Barros e muitos outros,
conduziu a AEP ao mais brilhante período da sua história. Outros dirigentes se
lhe seguiram, com o mesmo empenhamento mas sem o brilho da sua liderança.
1930 / 36 Progressos e Vicissitudes
Porém,
após publicação do Decreto 21 434 de 1932 a AEP fica sob a tutela do Estado, o
que faz despertar novas vicissitudes e conflitos.
1936 / 48 Dificuldades e Recessão
Do
consolidar dos seus valores morais e cívicos até à resistência às regras
ditatoriais que ameaçaram extingui-la e que depois a submeteram durante
décadas, condicionando o trabalho educativo e abnegado de muitos dos seus
dirigentes, foi mais outro caminhada difícil, que obrigou os mais esforçados
dirigentes a alguns sacrifícios e, em alguns casos, a temer pela sua segurança.
1948 / 74 – Recuperação e
Proteccionismo
Duas
vertentes constituíram os pilares da associação neste período:
Uma,
a da segurança, através da mobilização para lugares cimeiros da associação de
algumas personalidades que, embora ligadas ao Estado-Novo, haviam vivido o
Escotismo durante a sua juventude e quiseram demonstrar o seu apego e interesse
pelo Movimento.
A
outra, que poderemos designar por promoção e defesa dos valores do movimento e
de consciencialização pública do sentido educativo do Escotismo, desempenhada
pelo jornal ”Sempre Pronto”.
1974 /1979 – Renovação e Instabilidade
Com
a libertação do País, também a A.E.P. se sentiu mais livre e entregue à
capacidade dos seus principais dirigentes, que nem sempre corresponderam ao
melhor que deles se esperava. Chamado em emergência para conduzir a Associação,
Fausto Salazar Leite, rodeado de alguns dirigentes mais progressistas e
dedicados, traçou um novo programa de recuperação dos Princípios escotistas e desenvolvimento
associativo, que cedo deparou com a resistência de elementos mais retrógrados
que boicotaram o trabalho desenvolvido e fizeram ruir a estrutura que ainda mal
se esboçara, criando de
novo situações de instabilidade e de duvidosa qualidade do trabalho
desenvolvido associativamente.
1980 / 84 Renovação Pedagógica e Crescimento
Período
de renovação, com novas figuras e jovens dirigentes, durante a qual se reviu
todo o sistema de progresso e metodologia associativa e se apontaram novos caminhos
para a AEP.
Alguns
nomes importa recordar: José Eduardo Ribeiro, Armando Inácio, João Constantino.
1985 / 89 Nova Recessão... 1989 / 90
Recuperação e Formação
Depois
de dois membros da Chefia Nacional terem em Agosto de 84 pedido a demissão e do
Chefe Nacional, dois dias depois da Conferência Nacional de Fevereiro de 1985,
ter abandonado o país, sem ninguém ter informado, assiste-se a novo colapso,
com consequências devastadoras no trabalho associativo.
Esta
situação é alterada só no ano de 1990, com a aprovação em Conferência Nacional de
uma proposta que levou ao início da formação de dirigentes, tendo o 1.º Curso
Avançado de Instrutores de Formação (CAIF), sido realizado em Novembro desse
ano.
...
Mas
companheiros, recordando o passado, importa, principalmente, prestigiar o
presente e preparar o futuro…
E…
porque as principais tarefas da Fraternal não são o estudo da história, nem os
relatos do passado…importa falar do presente e do futuro.
Assumimo-nos
hoje como uma associação de escotismo para a idade adulta, preocupados com a
defesa e divulgação dos seus valores, onde os 3 principais objectivos são:
-
Contribuir para o contínuo desenvolvimento pessoal dos associados, segundo os
Valores Escotistas,
prosseguindo, assim, a sua autoformação com um método próprio, procurando
que eles sejam cada vez mais autónomos, solidários, responsáveis e empenhados;
-
Prestar serviço às comunidades locais, nacionais e internacional, no respeito
pelos cidadãos e pelo ambiente , participando
em acções humanitárias, sociais e ambientais destinadas a melhorar o Mundo e a
vida dos seus habitantes;
-
Apoiar o Movimento juvenil,
desenvolvendo acções
dirigidas essencialmente a promover e apoiar o escotismo da Associação dos
Escoteiros de Portugal.
Mas
a tarefa de mudar mentalidades e de procurar que a Fraternal seja socialmente
interventiva e útil, não tem sido fácil…
Também
algumas vezes nos interrogamos se o Escotismo atinge o pleno sucesso perante a
maioria dos jovens, ou seja, se consegue garantir a solidez da formação cívica
aos membros que deixam o Movimento, mesmo aos que têm uma atitude positiva
perante a sua entrada na vida adulta, reconhecendo-lhe as competências para o
fazer de uma forma construtiva, afirmativa e responsável, percebendo contudo
que, precisará de continuar o seu desenvolvimento, enquanto pessoa autónoma,
solidária, responsável e empenhada, podendo ainda continuar ligada ao
escotismo, através da Fraternal, prosseguindo assim a sua autoformação e ser
útil para a sociedade.
E
descansem todos aqueles que pensam que estamos a tentar seduzir os jovens
adultos e a contribuir para a redução dos recursos adultos da AEP.
Antes
pelo contrário!
Importa,
por isso, enaltecer o papel que a Fraternal pode ter no que respeita à
possibilidade de criar novas vocações para o Movimento entre os adultos. Muitos
adultos, essencialmente os pais ou outros adultos (mesmo sem familiares nos
escoteiros) que nã
o tiveram a possibilidade de serem escoteiros na sua juventude, podem descobrir os "valores do escotismo" só na idade adulta e decidir aceitá-los, como regra para as suas vidas. Assim, devido à idade, à falta de disponibilidade ou de interesse em serem dirigentes, por estarem longe dos grupos, será só através da Fraternal que poderão fazê-lo, e assim, poderão também, através da sua ajuda e dos seus conhecimentos, virem a ser uma mais-valia para a AEP.
....
Os
nossos principais projectos e acções, ligados á divulgação do escotismo e de
apoio à AEP, são:
-
O Álbum digital;
-
O jogo “O explorador";
-
Elaboração de um “Manual” para pais – “Escotismo:
mais do que uma ocupação de tempos livres, um modo de vida”;
Contribuição para a elaboração de um acervo
histórico, que venha a permitir fazer a história dos Escoteiros de Portugal;
-
Criação de um Museu virtual;
-
Ajuda às actividades nacionais e regionais;
-
Colaboração nas actividades do centenário do Escotismo em Portugal;
-
Honrar as responsabilidades assumidas na Parceria estabelecida com a AEP,
relativa ao Projecto Educativo e Interculturas, que tem por objectivo, a
contribuição para a educação dos nossos jovens, através de um sistema de
valores, para ajudar a construir um Mundo Melhor.
Conscientes
de que as nossas expectativas para o Movimento escotista em Portugal são algo
ambiciosas, ainda que as consideremos ao alcance de dirigentes aplicados e
competentes, não nos furtaremos a um aprofundado diálogo sobre os caminhos
futuros do Escotismo, ou mesmo à análise crítica dos nossos projectos e
opiniões, na esperança de que esse diálogo possa contribuir para o progresso e
dignificação dos Escoteiros de Portugal.
Não
queremos terminar sem manifestar o nosso sincero agrado pela evidente evolução
quantitativa e qualitativa que temos vindo a observar na vida da AEP, ainda que
tal resulte de uma análise
externa e pouco
documentada como é a nossa. No entanto, julgamos estar certos quando
consideramos que a maioria dos dirigentes associativos tem vindo a adquirir uma
sólida consciência dos reais valores do Escotismo e da importância pedagógica
do Movimento na formação cívica dos nossos jovens, facto a que não será alheio
o bom trabalho que tem vindo a ser realizado pela ENFIM, pedra mestra do
edifício centenário que é a AEP.
Saudamos,
por isso, o esforço de todos os dirigentes e desejamos que em cada um de vós
desperte a certeza de que estão trabalhando para uma causa sem paralelo e, sem
receios nem tibiezas possam, possamos todos, proclamar que o
Escotismo é uma escola de formação de cidadãos úteis e conscientes, ao serviço
do próximo e do país, defensores acérrimos da Natureza e construtores da Paz
entre os povos e as nações. Com esta postura deveremos celebrar com alegria o
primeiro centenário e caminhar seguros na construção do segundo.
BOA – CAÇA a todos
Beja, 25 de Maio de 2013
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