terça-feira, 31 de março de 2015

FERRAMENTAS PARA O RECRUTAMENTO DE ADULTOS (Parte II)

Texto de apoio elaborado por Sara Milreu, relativo ao módulo “Ferramentas para o Recrutamento de Adultos” integrado na 1.ª acção de formação da AEG-Portugal.

(adaptado do "Generational diversity in the BSA workplace", dos Boy Scouts of América)

Compreender as Gerações
Para compreender as diferenças geracionais e de atitudes dos Veteranos, Geração do Pós-Guerra, Geração X e Geração do Milénio é necessário ter em conta o contexto e as experiências com base nas quais se desenvolveram as suas atitudes e sistemas de valores. À medida que vão crescendo os membros de cada nova geração sentem-se impelidos a distinguir-se da geração anterior, demonstrando esta revolta no tipo de roupas que vestem, no comprimento dos cabelos, no tipo de linguagem, nos heróis que criam e admiram.

À medida que se aproximam da idade adulta e entram na sociedade em geral, os sinais exteriores de revolta tendem a esbater-se. O que fica são as convicções e sistemas mais profundos de valores que são demasiado importantes para pôr em causa. Vejamos quais são as convicções e aquilo que cada geração valoriza.

Compreender os Veteranos
Esta geração, nascida antes de 1946, foi influenciada em grande medida por dois grandes eventos: a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial. As suas crenças e sistema de valores foram construídos no seio de tempos difíceis, quando o país enfrentava muitas contrariedades.

As principais características dos Veteranos incluem:

 Dever, Honra, Patriotismo, Lealdade, Sacrifício.

Os Veteranos acreditam firmemente no dever, honra e patriotismo. Tendem a admirar e respeitar as forças armadas, valorizam a capacidade de sacrifício pessoal e dedicação.

Conformistas: Primeiro “Nós” o Grupo vs. o “Eu” Individual

Os efeitos da Segunda Grande Guerra foram ultrapassados à custa de grandes esforços conjuntos por parte desta geração. Esta experiência ensinou-lhes a valorizar o bem-estar do grupo antes do indivíduo. Eles gostam de se integrar, de se conformar com as normas da sociedade, querem ser um entre iguais, no sentido de que fazem parte integrante do grupo. Os seus ídolos não são indivíduos, mas sim um grupo: a marinha, o exército, o país.
Pacientes; trabalhadores; obedientes
Esta geração emergiu das atribulações da Grande Depressão para as dificuldades da guerra, a que se seguiu um período de enorme prosperidade. Em resultado disto, os Veteranos acreditam no valor do trabalho árduo, do esforço e da atenção ao pormenor. Acreditam que quem persevera, se empenha e cumpre as regras será recompensado no devido tempo e que a idade lhes dá prerrogativas de “antiguidade”.

Os filmes da época demonstram claramente esta capacidade de sacrifício individual para o bem-estar geral do grupo, da sociedade.

Compreender a Geração do Pós-Guerra
Nascidos entre 1945 e 1965, muitos elementos desta geração cresceram na relativa prosperidade dos anos 50 e 60. O seu nível de educação foi mais alto do que o das gerações anteriores e conquistaram a liberdade de se aventurar pelos caminhos do idealismo, com o exemplo paradigmático do movimento hippy dos anos 60. No entanto, este idealismo depressa teve de se transformar em realismo, com a guerra do Vietname, o escândalo de Watergate e as tensões de milhares de pessoas a afluir ao mercado de trabalho.

Definem-se pela sua profissão – Viciados em trabalho

Mais do que qualquer geração antes ou depois dela, os Geração do Pós-Guerra definem-se pela sua profissão. O seu trabalho identifica-os. O termo “viciado em trabalho” surgiu nos anos 70 para descrever o comportamento desta geração, que acreditava que quanto mais trabalhassem, maior o seu valor. A semana de trabalho média entre os membros desta geração continua a ser de 55 horas. São o grupo com maior influência no mercado de trabalho e continuarão a manter esta posição nas próximas 2 décadas.

Competitividade; Trabalho em Equipa; Sucesso Visível

Os Geração do Pós-Guerra constituem uma geração extremamente competitiva e gostam de mostrar os seus sucessos através de troféus, diplomas e placas. Também acreditam no valor do trabalho em equipa, porque isso faz deles uns vencedores, e é por isso que são bons a estabelecer relacionamentos.

Heróis e Valores Partilhados

Ao contrário dos Veteranos, cujos heróis eram um grupo ou ideal, os heróis desta geração são indivíduos fora do comum que reflectem o seu sistema de valores, como Martin Luther King, John F. Kennedy ou Nelson Mandela. São arrastados para causas com significado através da liderança de indivíduos carismáticos.

Compreender a Geração X
Composta por pessoas que nasceram entre 1965 e 1980, foram criados na altura em que a maior parte das instituições da sociedade começava a falhar – a demissão de Nixon, o fim da guerra do Vietname, o aumento da taxa de divórcios, escândalos ligados ao crédito e à corrupção, entre muitos outros.

Independentes, cépticos – “Ver para crer!”

Aos olhos da Geração X, muitas instituições em que os pais confiavam – governo, Igreja, empresas – não estiveram à altura dessa confiança desmedida. Em resultado disso, esta geração aprendeu a ser inerentemente batalhadora e céptica, que não se impressiona com o imediatamente visível, daí a sua visão do mundo assente na apresentação de provas, no “ver para crer!”

Independentes; os pais como amigos; não se deixam intimidar pela autoridade

Com a maioria dos seus pais viciados no trabalho ausentes por longas horas, a Geração X desenvolveu uma enorme capacidade de auto-suficiência e independência, de se defenderem sozinhos. Consequentemente, a Geração X é o primeiro grupo a ser criado encarando os pais como seus “amigos”. Esta auto-suficiência e relacionamento com os seus pais como se estes fossem seus “iguais” faz com que raramente se deixem intimidar pelas figuras de autoridade.

Sem Heróis Partilhados; Só pessoas conhecidas

Os heróis desta geração não são os grandes ícones sobre-humanos que os pais admiravam. Os heróis da Geração X tendem a ser as pessoas que eles conhecem – pais, avós, treinadores, professores, mentores. São pessoas que lhes provaram directamente o seu valor, apenas 5% da geração X tem por heróis pessoas que nunca conheceu.

Valores diferentes dos pais; Carpe Diem

Apesar de os pais poderem ser os seus heróis, a Geração X não partilha do sistema de valores que estes têm. Não têm uma abordagem de “cumprir as regras e receber a recompensa a seu tempo”. São demasiado cépticos e auto-suficientes para isso. Como não acreditam que podem confiar no futuro, centram-se mais no curto prazo. Acreditam que mais vale Carpe Diem – aproveitar o momento – e querem controlar todo o trabalho que desenvolvem, o objectivo desse trabalho e escolher com quem querem trabalhar. Se não ficarem satisfeitos, vão para outro lado.

Alta literacia tecnológica; Flexíveis

Enquanto a Geração X crescia, deu-se a entrada dos computadores pessoais e tecnologias relacionadas nos lares, escolas e locais de trabalho. Muitos deles são os mais aptos e mais “amigos” da tecnologia entre nós. Adaptam-se facilmente à mudança devido à sua flexibilidade e compreendem rapidamente as novas aplicações tecnológicas e suas aplicações.

Compreender a Geração do Milénio
 Nascida entre 1980 e 2000, a Geração do Milénio sempre dispôs de tecnologia nas suas vidas. Os membros desta Geração começam agora a entrar nas nossas Associações, onde se deparam com elementos da Geração X e da Geração do Pós-Guerra, mas o seu sistema de valores é muito diferente.

Domínio tecnológico

Os membros da Geração X apresentavam uma alta literacia tecnológica, mas os da Geração do Milénio dominam-na completamente. Para eles, enviar uma mensagem de texto pelo telefone, ou navegar na internet são tão naturais e intuitivos como comer ou dormir e é difícil encontrar alguém desta geração que não esteja “agarrado” a qualquer tipo de dispositivo digital, seja a comunicar ou simplesmente a jogar.

Optimistas; Com altas expectativas

A Geração do Milénio é bastante optimista e tem expectativas muito altas. Foram cuidados, amados e protegidos de tudo pelos pais, muito mais do que qualquer geração anterior. O desenvolvimento da sua auto-estima sempre foi uma prioridade para todos os que os rodeavam. Os pais criaram-nos como “amigos” e esforçaram-se imensamente para os convencer de que conseguirão obter tudo o que desejarem.

Individualistas; Mais um na Matilha

Estes jovens orgulham-se de ser únicos e altamente individualistas. Não obstante, têm tendência para ser “mais um na matilha”, em pequenos grupos com uma mistura ecléctica de culturas, etnias e interesses. A Geração do Milénio é, em grande medida, composta por cidadãos do mundo, devido às oportunidades que o esforço dos pais lhes abriu.

Polivalentes; Centrados no Curto Prazo; Precisam de estímulos frequentes

Tendo crescido com horários cheios de actividades extra-curriculares, aulas de música, treinos desportivos, etc., aprenderam a ser polivalentes e a executar várias tarefas ao mesmo tempo, adaptando-se rapidamente à mudança, seja ela de ambiente, de contexto, ou mesmo de espaço. Tendem a centrar-se no curto prazo e necessitam de um alto nível de motivação e estímulos frequentes para manterem o interesse e concentração nas actividades que realizam. A velocidade a que vive esta Geração está bem patente nos vídeos e anúncios televisivos destinados a esta faixa etária.

Avessos à idade adulta

Tal como os elementos da Geração X, a Geração do Milénio tende a admirar e permanecer muito ligada aos pais e avós. Na realidade estão a alargar o hiato entre a adolescência e a idade adulta, mais do que qualquer das gerações anteriores. Cerca de 50% dos elementos da geração Milénio vivem com os pais até terminarem os estudos, e completam-nos cada vez mais tarde. Isto não significa que não sejam ambiciosos, mas têm alguma dificuldade em fazer planos a longo prazo que lhes permitam concretizar essa ambição. Esta geração tende a viver um dia de cada vez, sem grandes considerações sobre o que o futuro lhes reserva.


(Continua)

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