sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A validade pedagógica de um MUSEU e de um Centro de Documentação dos Escoteiros de Portugal.

Está a perfazer dois anos, que a Fraternal apresentou ao Conselho Permanente da AEP uma proposta para que aquele Órgão associativo, recomendasse à Chefia Nacional a criação de um protocolo com a Fraternal, confiando a esta, a organização de um grupo de trabalho, com a missão específica de recolher e promover dádivas de espólios de escoteiros e grupos, proceder ao seu tratamento e catalogação, tendo em vista a futura criação de um Museu Escotista, bem como um Álbum digital de documentos e fotografias do passado escotista”.
Como é do conhecimento geral, a proposta foi aprovada, tendo-se seguido a elaboração do citado Protocolo e a tomada de posse, em 21/11/2015, do Grupo de Trabalho (Equipa Instaladora) encarregado da organização e do funcionamento dos diversos serviços e tarefas, que permitam alcançar os objectivos gerais do projecto, equipa essa que começou imediatamente a trabalhar, mas cuja acção se tem mostrado lenta e difícil, perante certa apatia do mundo associativo.

O futuro museu da AEP, além do património histórico que vier a possuir, será um centro de aprendizagem, onde todos poderão interagir, rumando em paralelo a um interesse comum, o saber. Deve-se constituir como espaço diferenciado, como local privilegiado de experimentação e de outras formas de sociabilidade, espaço de cidadania, que possibilite o encontro com a história, as técnicas, o saber, um conhecimento novo, uma admiração, uma lembrança, uma emoção, que nos ofereça a possibilidade de observar diferentes práticas. Deverá ser um espaço aberto a todo o público, livre para ser visitado por quaisquer grupos. É isso que se espera que aconteça, o museu como centro de conhecimento, não apenas para escoteiros, mas para todo e qualquer público. 

É assim oportuno, chamar a atenção de todos para a importância de tal projecto e referir a validade pedagógica da existência de um Museu e de um Centro de Documentação dos Escoteiros de Portugal, assunto que está muito para além dos considerandos referidos na proposta levada ao Conselho Permanente, que foram:
“Considerando a riqueza histórica da Associação dos Escoteiros de Portugal;
Considerando que para projectar o futuro não se pode ignorar o passado;
Considerando que é consensual a grande importância e a riqueza patrimonial que representa para uma instituição como a AEP a existência de um Centro de Documentação e Interpretação, dedicado à recolha e tratamento de um acervo que testemunhe o seu passado histórico e os seus Valores”.

Os Escoteiros de Portugal são uma associação educativa para jovens. Enquadram-se nas suas actividades e no método de educação não formal que utiliza, a protecção e o contacto com a natureza, a educação ambiental, a intervenção social, a cooperação para o desenvolvimento, a promoção para o voluntariado social, a formação cívica e o culto da paz, da cultura, do desporto, da vida saudável e a formação para uma cidadania responsável.

Ora um museu é, por definição, uma instituição permanente, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento. É por excelência, um espaço pedagógico e de divulgação do conhecimento. É também um espaço de prazer, de descoberta, de gosto pelo saber, de aprendizagem não-formal e convida à pesquisa, tal como a educação escotista. É acima de tudo um espaço cultural, e neste caso concreto, o local onde se expõem os testemunhos materiais da Associação, a sua história e a de um Movimento, que reflecte os seus valores e princípios.

De acordo com as Bases do Projecto, o museu (e o Centro de Documentação a ele ligado, ou melhor, nele integrado) "extravasa a ideia de ser um mero local para acumular e expor objectos, para assumir um papel importante na interpretação das actividades e do método de educação usado no Movimento, no fortalecimento da cidadania e da consciência ecológica, do respeito pelas diferenças culturais e étnicas, assim como no incremento da qualidade de vida, dando a conhecer também a história do Escotismo no mundo e a história da Associação dos Escoteiros de Portugal, em particular".

A educação não pode estar separada da cultura, que é aquilo que ampara, dá forma e conteúdo à educação. A educação e a cultura são práticas indissociáveis, estão extremamente interligadas no processo ensino-aprendizagem.

O museu pode e deve estar ao serviço do educador escotista. É um bom instrumento para apoiar pesquisas e iniciar estudos e contribuir para o que deve ser o mais importante no trabalho do dirigente – fazer o escoteiro aprender a pensar. Tal como se escolhe um livro ou um capítulo dele para apoio de uma matéria, também o museu pode ser uma escolha para iniciar um assunto, complementar uma actividade, ou até mesmo ajudar a provocar uma discussão.

A educação deve promover a observação atenta e o pensamento crítico, criativo e dinâmico.

Refere a OMME que a educação Escotista vai muito para além da educação formal (a educação escolar), tanto em alcance como em duração, e explícita:
A educação é um processo contínuo de desenvolvimento que não tem lugar apenas durante os anos de formação (infância e adolescência). Continua ao longo da vida”.
A educação pelo Escotismo, é uma proposta que procura exercer influência no cidadão para agir, por si, em favor do próprio e ao serviço da sociedade, considerando que:
Como individuo, deve contribuir para o aperfeiçoamento de todas as suas capacidades e em todas as áreas de desenvolvimento - física, intelectual, emocional, social e espiritual.
Como membro de uma sociedade, deve contribuir para o desenvolvimento de uma consciência e preocupação com os outros, do sentido de pertença a uma comunidade e à sua história e evolução.
Estas duas dimensões não podem ser dissociadas, uma vez que não há “educação” sem uma procura do pleno desenvolvimento do potencial duma pessoa, e não há “educação” sem a aprendizagem da vida com os outros, enquanto membro das comunidades local, nacional e internacional”.

Educação e cultura devem, assim, seguir sempre em paralelo. A educação deve ter o património e o conhecimento do passado como referencial, considerando-o suporte fundamental para aplicar na acção educativa. Um museu está carregado de diversidade, é o resultado de uma relação em que a história e o património são construídos e reconstruídos em cada momento pela acção do homem.
A educação através da visita aos museus possui um importante foco de interesse na actualidade, tanto no que diz respeito ao seu papel social, quanto no que se refere às práticas realizadas nesse espaço e suas possíveis reflexões.

O museu é um espaço propício para a interacção entre escoteiros, dirigentes, e outros adultos e fontes diversificadas de aprendizagem porque o papel dos museus é mesmo este: informar, actualizar, conhecer, estudar e investigar. Um museu ajuda a compreender os legados do passado e a dar exemplos para as novas gerações.

Artigo compilado por Rui H. Macedo

MENSAGEM da FRATERNAL à 55.ª CONFERÊNCIA NACIONAL da AEP

Prezados Companheiros
A Fraternal Escotista de Portugal pretende, em primeiro lugar, saudar todos os presentes e desejar que esta Conferência decorra dentro do melhor espírito escotista. Que o tempo e o contributo aqui aplicados por todos vós seja um valioso investimento em favor da valorização e prestígio dos Escoteiros de Portugal.
Aproveitando a oportunidade que nos foi concedida pela decisão da vossa Conferência Nacional de 2001, tornada uma tradição dos últimos anos, gostaríamos de oferecer a nossa contribuição, ainda que de modestos observadores, para uma reflexão sobre os valores do nosso Movimento e a acção das nossas associações.
Como associação autónoma, ligada à Fraternidade Internacional dos Escoteiros e Guias Adultos, da qual foi fundadora em 1953, a Fraternal tem a mesma Missão e preocupações desta associação internacional…
Não precisamos de demonstrar o apoio prestado aos jovens nem os serviços desempenhados em prol da comunidade pela Fraternal, pois são por demais conhecidos. Vale talvez a pena recordar algo mais sobre o crescimento pessoal na idade adulta. B-P tinha profunda consciência de que a formação do individuo nunca está completa: vejamos uma das suas citações mais interessantes: “Muitos jovens de vinte e dois anos acham que já sabem tudo e dizem a todos que assim é. Quando chegam aos trinta e dois descobrem que afinal ainda há algumas coisas a aprender; aos qua-renta e dois aprendem coisas novas todos os dias. Eu ainda o faço aos setenta e três.
É claro que Baden-Powell não pensava que o Movimento Escotista se destinava apenas aos jovens. Relembrando os seus “slogans” mais conhecidos, “Uma vez Escoteiro, sempre Escoteiro” ou “O Escotismo é para pessoas dos 8 aos 80 anos” e muitos dos seus escritos, podemos aperceber-nos de que os princípios e valores do Escotismo, incluindo os famosos pontos do método Escotista, mantêm a sua validade e significado na vida adulta.
Na realidade, no início, ele concebeu o seu método ao publicar o livro com o título Aids to Scoutin  for N.C.O. and Men, destinado aos batedores (scouts) militares, ou seja adultos, e só mais tarde descobriu que este método também podia ser utilizado com os jovens.
E foi o Fundador, que escreveu em Julho de 1937, trinta anos depois da implementação do Movimento, diversas páginas sobre o papel dos Escoteiros e Guias adultos, na sociedade, referindo: “Muitos milhões dos que foram Escoteiros e Guias na sua juventude formam nos diferentes paí-ses um fermento de homens e mulheres que ultrapassam as divergências insignificantes e as ofensas antigas, para contemplar um futuro de felicidade e prosperidade para to-dos, através da amizade mútua e de sentimentos de fraternidade. Temos aqui o embrião de um exército ou força de intervenção para a paz, perante o qual os exércitos da guerra serão forçados a render-se, mais tarde ou mais cedo”
Ao aderir à Fraternal (ou a outra associação congénere), um adulto que acredita no Escotismo, não se contenta apenas em viver de acordo com os ideais do Movimento, pretende também participar na nobre missão de espalhar os ideais Escotistas em sua volta.
Todos nos recordamos da parte final da “última mensagem de B-P aos Escoteiros”, em que ele refere aos jovens: “mantenham-se sempre fiéis ao vosso Compromisso de Honra, mesmo quando deixarem de ser rapazes, e que Deus vos ajude a consegui-lo”.                

A Fraternal é uma associação de adultos, onde quem a íntegra, põe em prática os ideais do Escotismo, com a finalidade de prestar serviços à comunidade, como parte do desenvolvimento pessoal de cada um, como adulto responsável, solidário, empenhado e autónomo. Como membro de uma sociedade, deve contribuir para o desenvolvimento de uma consciência de solidariedade social e de sentido de pertença à comunidade, à sua história e à sua evolução.
Através da Fraternal, o escoteiro adulto leva à sociedade toda a sua experiência e conhecimentos adquiridos ao longo da sua vida.
Para isso, a Fraternal tem um programa específico que passa por um conjunto de Áreas de Trabalho (coincidentes com as áreas de desenvolvimento, como indivíduo e como membro de uma sociedade), a saber: desenvolvimento físico, desenvolvimento social, desenvolvimento intelectual e desenvolvimento espiritual.
Como se pode constatar o apoio ao Movimento juvenil, - não como dirigentes, mas como integrantes de equipas de apoio e divulgação do Escotismo, é apenas uma parcela do nosso campo de acção.
Mas foquemo-nos naquilo que respeita ao apoio e divulgação do Escotismo:
Nesse sentido e reconhecendo a falta gritante de recursos humanos - que não permite ter a atenção devida para algumas tarefas complementares, que consideramos essenciais para o conhecimento e a divulgação do Escotismo em geral e da AEP em particular, propusemo-nos encetar algumas dessas tarefas… (conforme oportunamente divulgado). Também não deixamos de, sempre que possível, apoiar as actividades escotistas, desde que nos seja solicitado pelos seus dirigentes, e sempre em colaboração com estes. Só assim o faremos.
O Serviço à comunidade onde estamos inseridos, em especial nas áreas onde temos núcleos implantados, constitui a demonstração resultante da educação escotista, com visibilidade ainda muito diminuta, infelizmente.
Porém, a afirmação e empenhamento da Fraternal só pode vir do seu crescimento através da adesão de novos associados, conscientes da validade do Movimento escotista e essa adesão, prioritariamente, só poderá conseguir-se pela mobilização de elementos oriundos da AEP, especialmente aqueles que abandonam aqui a sua actividade, devido a exigências da sua vida profissional ou familiar e desejam continuar a cultivar os valores escotistas, ao longo da sua vida e na sociedade.
Nunca o fizemos antes, porque considerámos que seria necessário demonstrar no concreto a validade da nossa acção, mas cremos ter chegado a altura para, aqui desta tribuna, fazermos a todos um apelo directo, para que não deixem, quando entenderem oportuno, de pertencer á Fraternal, continuando assim a apoiar directamente o Escotismo e a juventude portuguesa.
Caminhando já para o final desta intervenção, não pode-mos deixar de referir que para a visibilidade da razão de ser da educação escotista de milhares de jovens, centro de todo o vosso trabalho e esforço, é preciso dar continuidade às opções de vida de cada um, procurando mantê-los ligados ao espírito do Compromisso de Honra uma vez assumido. Por isso chamamos a vossa especial atenção para a importância decisiva que o Caminheirismo tem no complemento da educação proporcionada pelo Movimento, assim como a sua importância determinante na sustentabilidade do próprio Movimento jovem em geral e na sustentabilidade da AEP em particular, que aconselha um esforço de formação para se conseguir um Caminheirismo completo, em que a partida do Clã se faça com os jovens a assumir perante os seus pares o seu projecto de vida adulta, prosseguindo o seu crescimento como cidadãos integrados na sociedade, dando testemunho dos valores escotistas que os formaram para a vida, contribuindo, assim, para a criação de um mundo melhor.
Teremos, a todo o custo, de evitar o abandono precoce e descomprometido, que gera adultos que recordam a sua passagem pelos escoteiros como um mero divertimento, em vez de se assumirem como escoteiros adultos e cidadãos conscientes e responsáveis dos seus deveres cívicos.
Essa é uma responsabilidade vossa e nossa e, para tanto, deveremos manter-nos unidos e colaborantes.
Não queremos terminar sem saudarmos, o esforço de todos os dirigentes e, em especial, os que se candidatam aos Órgãos Nacionais, desejando que em cada um de vós desperte a certeza de que estão trabalhando para uma causa sem paralelo e, sem receios nem tibiezas, possam, possamos todos, proclamar que o Escotismo é uma escola de formação de cidadãos úteis e conscientes, ao serviço do próximo e do País, defensores acérrimos da Natureza e construtores da Paz entre os povos e as nações.
Com esta postura deveremos continuar a celebrar, com alegria, o primeiro centenário do Escotismo e caminhar seguros na construção do segundo.

BOA – CAÇA a todos (Mariano Garcia - Vice-presidente)

DISCURSO DIRECTO, por Paulo Henriques dos Marques

Porque muitos se não
lembram de ter passado a
escoteiros adultos?
A óbvia a utilidade do Caminheirismo para captação de recursos adultos, é determinante para a sustentabilidade do Movimento jovem, em geral, e para a sustentabilidade das suas associações, em particular.
No entanto, essa utilidade não pode ser confundida com a finalidade do Caminheirismo, que é muito mais impactante na sociedade que apenas a manutenção do próprio Movimento.
O Caminheirismo é a fase de acabamento da educação propiciada pelo Movimento jovem. É quando se preten-de concretizar a formação de um jovem adulto, capaz de cuidar de si, de escolher um projeto de vida adulta e dar passos concretos nesse caminho, de se tornar um cidadão útil e construtivo para a comunidade - ou algo deste género, explicado por outras palavras específicas de cada associação. Como é sabido, uma finalidade educativa desta grandeza não se atinge apenas por feliz acaso. Para a conseguir, há todo um caminho a percorrer na autonomização, na reflexão, na capacitação e na superação, entre outras competências desenvolvidas no jovem durante o Caminherismo.
Conforme cada indivíduo e o programa educativo da respetiva associação, este desenvolvimento deve operar-se em mais ou menos anos – mas sempre ao longo de alguns anos. Esse percurso formativo está completo quando o(a) caminheiro(a) está pronto(a) para partir do Clã. Esta partida pode assumir diferentes contornos. Independentemente deles, pretende-se que seja o momento em que o(a) caminheiro(a) assuma perante os seus pares e perante um(a) educador(a) escotista, um projeto de vida adulta, em que já começou a caminhar, e após a renovação do seu Compromisso de Honra, que leva para a vida.
Uma vez assumido este passo gigantesco, está concretizada a finalidade nuclear do Movimento jovem. De cada vez que tal é conseguido, o Movimento deixa de ter um educando e a comunidade passa a contar com um escoteiro adulto.
Se fosse possível multiplicar este feito por todos os que passam pelo Movimento jovem, o impacto benéfico do Escotismo na Sociedade seria muito maior do que real-mente é – porque todos se lembrariam que passaram a ser escoteiros adultos.
Mas a realidade é outra. Como constatam educadores escotistas de qualquer época, poucos escoteiros chegam a iniciar a fase do Caminheirismo. Ainda mais raramente, os que passam a caminheiro(a) chega a assumir uma partida do clã como um projeto de vida já iniciado e conscientes do Compromisso de Honra assumi-do. Em vez disso, o mais vulgar é desligar-se progressivamente do Movimento sem saber bem como o fazer, nem para passar a ser o quê... Com este abandono descomprometido antes da meta, é natural que muitos
adultos se recordem apenas de terem andado nos Escoteiros, em vez de se recordarem que passaram a ser escoteiros adultos. Esta diferença constitui um “por-maior” que limita muito a extensão do impacto do nosso Movimento na sociedade.
Portanto, quando se põe em hipótese não investir no Caminheirismo, há que ponderar o risco de não completar adequadamente a formação escotista de um jovem adulto.
Em síntese, para que a formação escotista fique para toda a vida, não basta ter sido escoteiro(a) numa fase da vida muito enquadrada pelos pares e pelo educador escotista, em que se beneficiava de muito apoio e em que os desafios eram pouco díspares dos seus recursos pessoais.
Se um(a) escoteiro(a) não desenvolver as competências indispensáveis para se assumir responsável pelo seu próprio desenvolvimento nem para escolher um caminho para a vida, poderá sentir-se inapto(a) para empreender os seus interesses, sentir-se comparativamente inferior aos demais, desmotivar e abandonar o Movimento sem completar a sua finalidade. 

Arrisco-me mesmo a afirmar que será também por causa de abandonar o Movimento antes da meta, que mui-tos adultos se recordam apenas de terem andado nos Escoteiros, em vez de se recordarem que passaram a ser escoteiros adultos responsáveis.

Paulo Henriques dos Marques
Insígnia de Madeira de Clã – Gilwell Park –1989)

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Razão de ser do escotismo para adultos

1. A maioria dos que um dia prestaram o seu Compromisso Escotista, continuam sempre a respeitá-lo durante toda a vida, e a procurar fazer todo o possível por melhorar o mundo em que vivemos.
Podemos continuar, em adultos, fazendo coisas juntos, com quem um dia, em jovem, prestou o seu Compromisso como Escoteiro?


2. Por outro lado, há pessoas que, na sua juventude não tiveram a oportunidade de praticar o "Grande Jogo" do Escotismo, e agora, como adultos, desejam aderir aos valores do Compromisso Escotista.
Podemos oferecer a quem não teve a oportunidade de ser escoteiro quando jovem, poder viver o Escotismo na sua idade adulta?

O Escotismo para adultos é um movimento de Escoteiros na idade adulta, onde quem o íntegra, põe em prática os ideais do Escotismo, com a finalidade de prestar serviços à comunidade, como parte do desenvolvimento pessoal de cada um, como adulto responsável, solidário, empenhado e autónomo.

O Escotismo leva mais de 100 anos educando rapazes e raparigas para a cidadania.
Como consequência disso formaram-se muitas gerações de adultos, educados civicamente e motivados. Por isso ao terminar a sua etapa educativa no Escotismo, os adultos que não podem ou não desejam prosseguir ajudando as associações dos jovens, mas que querem prosseguir vivendo os valores da Lei e do Compromisso, devem dar a sua contribuição na transformação do mundo em que vivem, seguindo as recomendações de B. P. na sua última mensagem.
“Mantenham-se sempre fiéis ao vosso Compromisso de Honra, mesmo quando deixarem de ser rapazes”.
Podem, assim, continuar a sua tarefa, como elementos isolados ou, bem melhor, em grupos organizados. Para isso, a Fraternal proporciona a oportunidade de poder fazê-lo, na companhia de outros adultos.
A educação Escotista vai muito para além da educação formal, (a educação escolar) tanto em alcance como em duração.
A OMME explicita: “a educação é um processo contínuo de desenvolvimento que não tem lugar apenas durante os anos de formação (infância e adolescência). Continua ao longo da vida”.
A educação pelo Escotismo, é uma proposta que procura exercer influência no cidadão para agir, por si, em favor do próprio e ao serviço da sociedade, considerando que:
Como individuo, deve contribuir para o aperfeiçoamento de todas as suas capacidades e em todas as áreas de desenvolvimento - física, intelectual, emocional, social e espiritual.
Como membro de uma sociedade, deve contribuir para o desenvolvimento de uma consciência e preocupação com os outros, do sentido de pertença a uma comunidade e à sua história e evolução.
Estas duas dimensões não podem ser dissociadas, uma vez que não há “educação” sem uma procura do pleno desenvolvimento do potencial duma pessoa, e não há “educação” sem a aprendizagem da vida com os outros, enquanto membro das comunidades local, nacional e internacional”.

DISCURSO DIRECTO, por Nelson Bento

Esta é a minha visão, opinião individual e livre sobre a Fraternal Escotista de Portugal.
Eu entrei para a Fraternal pouco tempo depois de ter deixado a Associação dos Escoteiros de Portugal, porque o meu novo emprego me impedia de desenvolver o trabalho com os jovens ao fim de semana.
Durante estes quase seis anos escutei muitas críticas envolvendo o escotismo para adultos, acusado de nem ter qualquer sentido ou utilidade, um grupo de indivíduos que gostam de copos e festas, ou de o escotismo ser só para os jovens. Pois bem, vou responder mostrando o que fazemos e até porque, em certas circunstâncias, não existe outra associação em Portugal capaz de dar resposta.

1.“O Escotismo é só para jovens.” Será que sim?
Pessoalmente discordo. O escotismo não é, em primeiro lugar, uma actividade de tempos livres para os jovens, mas sim uma forma de se viver a vida seguindo o Compromisso de Honra Escotista. Sim, existe toda uma formação na juventude, onde são percorridas as seis áreas do desenvolvimento, com o objectivo de tornarmos os jovens escoteiros em adultos capazes de enfrentar os desafios da sociedade onde vivem, desfrutando da vida ao máximo e sendo felizes. Porém não deixamos de ser Escoteiros ao nos tornarmos adultos. Será que o único lugar para o adulto no escotismo é a formação dos jovens? Para mim não existe nada mais errado, pois nessa linha de pensamento perdem-se os valores escotistas e ensina-se o que não é praticado, porque só o jovem é escoteiro. O escotismo é a minha maneira de estar na vida, sou escoteiro hoje enquanto adulto como o era enquanto jovem, o Compromisso é para ser honrado na minha vida exactamente da mesma maneira. Eu sou muito grato por todos os dias po-der ser membro de uma pequena associação, onde os meus irmãos mais velhos partilham comigo as vivências escotistas, ensinando e aprendendo muito no espírito de partilha praticado por nós. Aprendi muito nestes quase seis anos de Fraternal, aprendi a lidar com debates de ideias de uma forma saudável. Podemos ser aguerridos na defesa do nosso ponto de vista, mas se outra for a escolha colectiva, vou trabalhar com o mesmo empenho e, depois do debate, vou muito feliz almoçar com a pessoa com quem estive a debater, porque é um irmão escoteiro de quem gosto muito e o respeito apesar de pensar de maneira diferente da minha. Também, tudo o que hoje sei sobre caminheirismo, aprendi no tempo em que estou na Fraternal, tendo a possibilidade de participar em actividades com outras associações. Sim a Fraternal sempre me apoiou muito na interacção com outras associações, para o meu desenvolvimento pessoal e hoje até posso dizer que um grupo juvenil está a aproveitar dessa minha aprendizagem.

2.“O Escotismo adulto é um grupo de amigos que só quer copos e festas.” Este é outro dos argumentos mais utilizados para criticar o escotismo adulto. É dos pensamentos mais errados que podem existir. Na central do Banco Alimentar aqui de Setúbal, eu vejo o empenho e dedicação da Fraternidade Nuno Alvares, não só nas campanhas mas em todo o ano, para recolher alimentos na luta contra a fome. Nós, na Fraternal, apesar de não termos estrutura para fazer algo de tal dimensão, também estamos presentes nas campanhas, com os que podem fazê-lo. Na nossa região da Fraternal em Setúbal, entre outros, tem sido desenvolvido trabalho com a Associação de Autismo, na promoção do escotismo nas escolas, apoio a grupos juvenis de escoteiros, promoção do escotismo (cem anos do escotismo na Região de Setúbal), etc. A mim, parece-me que isto vai muito para além de copos e festas. É verdade que não conseguimos ter a dinâmica dos movimentos juvenis mas, ao contrário das críticas, nós lutamos para praticarmos o escotismo em todos os dias da nossa vida, não somos pessoas que fomos escoteiros numa associação juvenil e, ao deixarmos a mesma, deixamos simplesmente de ser escoteiros. O Escotismo para mim começa na Alvorada de cada manhã da minha vida e termina no Silêncio do adormecer de cada noite. O verdadeiro escoteiro vive assim. O verdadeiro escoteiro é sempre escoteiro, pode continuar a conviver e a trabalhar junto de outros escoteiros na vida adulta, de forma livre, sem ser obrigado ao condicionalismo que muitos querem impor, da obrigatoriedade de ser dirigente para poder ser escoteiro adulto, por essa ordem de ideias só se é escoteiro quando se usa o lenço e durante o trabalho com os jovens. Discordo completamente e sei que para mim o escotismo é todo o meu viver, é a minha maneira de estar na vida.

3.“Eu nem nunca ouvi falar da tua associação”.
A minha associação é bem pequena, talvez uma das mais pequenas das associações portuguesas para o escotismo adulto, porém é a mais antiga e a mais preparada. Tenho muito orgulho em fazer parte dela. Até penso que, provavelmente, seria a única associação em Portugal que aceitaria Baden-Powell como seu associa-do, se ele quisesse ser escoteiro até aos oitenta e um anos como o foi, devido à sua a religião anglicana. Dá que pensar, se ele aparecesse hoje e ninguém soubesse quem ele era, apenas a Fraternal poderia conceder-lhe a oportunidade de ser escoteiro em Portugal. Mas a Fraternal vai muito mais longe e abre muitas mais por-tas para o futuro. Hoje no pequeno Núcleo local do qual faço parte, somos pioneiros na diferença, o Núcleo tem praticantes de quatro religiões diferentes, sim quatro, e trabalhamos com elementos que hoje não tem um lugar próprio na sociedade, o Escotismo Especial. Noutros países existem associações especializadas nesta área, mas infelizmente em Portugal ainda não o temos. A Fraternal é uma solução imediata para essa área mal desenvolvida no nosso país. Eu adoro estar com os elementos do nosso Núcleo, somos todos amigos, mesmo que bem diferentes uns dos outros, mas sempre com um ideal em comum, vamos tantas e tantas vezes beber um café, fazer uma viagem ou uma caminhada, para nós o importante são os laços que nos unem, os laços do Escotismo.
Para mim é um enorme orgulho ser membro da Fraternal Escotista de Portugal, uma pequena associação empenhada em viver o escotismo e dar esta mesma vivência a todos os adultos que a quiserem receber, não podia ficar calado ouvindo argumentos negativos de quem nem sequer imagina o que aqui se faz, em prol de uma sociedade mais justa e mais fraterna.

Sempre pronto a servir! 

Perfil de um Escoteiro adulto

Se um dia, alguém me pedisse para descrever o perfil de um verdadeiro escoteiro adulto, talvez o definisse como um indivíduo que ainda criança tivera a sorte de entrar para um Grupo de escoteiros onde encontrara chefes dedicados e competentes que o levaram a jogar “o jogo do Escotismo”, em todas as suas prerrogativas, lhe deram a conhecer a deliciosa aventura de viver com a Natureza e a importância da vivência em grupo, ajudando-o a descobrir os Princípios e Valores que o Método cultiva. Ensinaram-lhe a conhecer-se, a superar-se e a respeitar a si próprio e aos outros. A aprender fazendo, valorizando os conhecimentos dos demais e participando com interesse e disponibilidade nas tarefas colectivas.

       Ao crescer, desenvolvera os seus conhecimentos, traçando o seu projecto pessoal de vida, com a segurança de quem sabe “conduzir a sua canoa” e com respeito pelos que o rodeiam, cultivando os valores aprendidos no Escotismo e, no momento próprio, numa opção consciente, trocou as fantasias do “jogo” e da aventura pela interiorização do Compromisso assumido e tornado opção de vida, valorizando os ensinamentos escotistas numa postura de cidadania e de responsabilização perante si próprio e a sociedade, da qual se assume cidadão interveniente e responsável.

       Confesso que tenho a felicidade de conhecer (ou ter conheci-do) pessoas assim, cidadãos conscientes da sua posição na sociedade, profissionais competentes, probos e respeitados que, naturalmente se afirmam escoteiros, testemunhando a importância do Escotismo na sua formação, enquanto homens (ou mulheres) e cidadãos conscientes e úteis.


Todos os que nos afirmamos escoteiros, deveríamos ser assim, não acham?
Mariano Garcia