sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A validade pedagógica de um MUSEU e de um Centro de Documentação dos Escoteiros de Portugal.

Está a perfazer dois anos, que a Fraternal apresentou ao Conselho Permanente da AEP uma proposta para que aquele Órgão associativo, recomendasse à Chefia Nacional a criação de um protocolo com a Fraternal, confiando a esta, a organização de um grupo de trabalho, com a missão específica de recolher e promover dádivas de espólios de escoteiros e grupos, proceder ao seu tratamento e catalogação, tendo em vista a futura criação de um Museu Escotista, bem como um Álbum digital de documentos e fotografias do passado escotista”.
Como é do conhecimento geral, a proposta foi aprovada, tendo-se seguido a elaboração do citado Protocolo e a tomada de posse, em 21/11/2015, do Grupo de Trabalho (Equipa Instaladora) encarregado da organização e do funcionamento dos diversos serviços e tarefas, que permitam alcançar os objectivos gerais do projecto, equipa essa que começou imediatamente a trabalhar, mas cuja acção se tem mostrado lenta e difícil, perante certa apatia do mundo associativo.

O futuro museu da AEP, além do património histórico que vier a possuir, será um centro de aprendizagem, onde todos poderão interagir, rumando em paralelo a um interesse comum, o saber. Deve-se constituir como espaço diferenciado, como local privilegiado de experimentação e de outras formas de sociabilidade, espaço de cidadania, que possibilite o encontro com a história, as técnicas, o saber, um conhecimento novo, uma admiração, uma lembrança, uma emoção, que nos ofereça a possibilidade de observar diferentes práticas. Deverá ser um espaço aberto a todo o público, livre para ser visitado por quaisquer grupos. É isso que se espera que aconteça, o museu como centro de conhecimento, não apenas para escoteiros, mas para todo e qualquer público. 

É assim oportuno, chamar a atenção de todos para a importância de tal projecto e referir a validade pedagógica da existência de um Museu e de um Centro de Documentação dos Escoteiros de Portugal, assunto que está muito para além dos considerandos referidos na proposta levada ao Conselho Permanente, que foram:
“Considerando a riqueza histórica da Associação dos Escoteiros de Portugal;
Considerando que para projectar o futuro não se pode ignorar o passado;
Considerando que é consensual a grande importância e a riqueza patrimonial que representa para uma instituição como a AEP a existência de um Centro de Documentação e Interpretação, dedicado à recolha e tratamento de um acervo que testemunhe o seu passado histórico e os seus Valores”.

Os Escoteiros de Portugal são uma associação educativa para jovens. Enquadram-se nas suas actividades e no método de educação não formal que utiliza, a protecção e o contacto com a natureza, a educação ambiental, a intervenção social, a cooperação para o desenvolvimento, a promoção para o voluntariado social, a formação cívica e o culto da paz, da cultura, do desporto, da vida saudável e a formação para uma cidadania responsável.

Ora um museu é, por definição, uma instituição permanente, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento. É por excelência, um espaço pedagógico e de divulgação do conhecimento. É também um espaço de prazer, de descoberta, de gosto pelo saber, de aprendizagem não-formal e convida à pesquisa, tal como a educação escotista. É acima de tudo um espaço cultural, e neste caso concreto, o local onde se expõem os testemunhos materiais da Associação, a sua história e a de um Movimento, que reflecte os seus valores e princípios.

De acordo com as Bases do Projecto, o museu (e o Centro de Documentação a ele ligado, ou melhor, nele integrado) "extravasa a ideia de ser um mero local para acumular e expor objectos, para assumir um papel importante na interpretação das actividades e do método de educação usado no Movimento, no fortalecimento da cidadania e da consciência ecológica, do respeito pelas diferenças culturais e étnicas, assim como no incremento da qualidade de vida, dando a conhecer também a história do Escotismo no mundo e a história da Associação dos Escoteiros de Portugal, em particular".

A educação não pode estar separada da cultura, que é aquilo que ampara, dá forma e conteúdo à educação. A educação e a cultura são práticas indissociáveis, estão extremamente interligadas no processo ensino-aprendizagem.

O museu pode e deve estar ao serviço do educador escotista. É um bom instrumento para apoiar pesquisas e iniciar estudos e contribuir para o que deve ser o mais importante no trabalho do dirigente – fazer o escoteiro aprender a pensar. Tal como se escolhe um livro ou um capítulo dele para apoio de uma matéria, também o museu pode ser uma escolha para iniciar um assunto, complementar uma actividade, ou até mesmo ajudar a provocar uma discussão.

A educação deve promover a observação atenta e o pensamento crítico, criativo e dinâmico.

Refere a OMME que a educação Escotista vai muito para além da educação formal (a educação escolar), tanto em alcance como em duração, e explícita:
A educação é um processo contínuo de desenvolvimento que não tem lugar apenas durante os anos de formação (infância e adolescência). Continua ao longo da vida”.
A educação pelo Escotismo, é uma proposta que procura exercer influência no cidadão para agir, por si, em favor do próprio e ao serviço da sociedade, considerando que:
Como individuo, deve contribuir para o aperfeiçoamento de todas as suas capacidades e em todas as áreas de desenvolvimento - física, intelectual, emocional, social e espiritual.
Como membro de uma sociedade, deve contribuir para o desenvolvimento de uma consciência e preocupação com os outros, do sentido de pertença a uma comunidade e à sua história e evolução.
Estas duas dimensões não podem ser dissociadas, uma vez que não há “educação” sem uma procura do pleno desenvolvimento do potencial duma pessoa, e não há “educação” sem a aprendizagem da vida com os outros, enquanto membro das comunidades local, nacional e internacional”.

Educação e cultura devem, assim, seguir sempre em paralelo. A educação deve ter o património e o conhecimento do passado como referencial, considerando-o suporte fundamental para aplicar na acção educativa. Um museu está carregado de diversidade, é o resultado de uma relação em que a história e o património são construídos e reconstruídos em cada momento pela acção do homem.
A educação através da visita aos museus possui um importante foco de interesse na actualidade, tanto no que diz respeito ao seu papel social, quanto no que se refere às práticas realizadas nesse espaço e suas possíveis reflexões.

O museu é um espaço propício para a interacção entre escoteiros, dirigentes, e outros adultos e fontes diversificadas de aprendizagem porque o papel dos museus é mesmo este: informar, actualizar, conhecer, estudar e investigar. Um museu ajuda a compreender os legados do passado e a dar exemplos para as novas gerações.

Artigo compilado por Rui H. Macedo

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