Decorreu nos dias 28 e 29 de abril, no Centro de Congressos do Estoril, a 57ª Conferência Nacional dos Escoteiros de Portugal
A nossa intervenção:
Senhor Escoteiro Chefe Nacional
Companheiros.
A Fraternal Escotista de Portugal saúda todos os
presentes, exaltando o vosso esforço e dedicação em prol do Escotismo e ao
serviço de uma Associação centenária, empenhada na educação dos jovens do nosso
País, procurando transformá-los em cidadãos úteis e responsáveis.
A nossa Fraternal assume-se sucessora, no que nos
sentimos honrados, da Fraternal dos Antigos Escoteiros de Portugal, instituição
criada em 1950 como departamento da Associação dos Escoteiros de Portugal, onde
então e há mais de uma dezena de anos, se debatiam ideias de alargamento do
Movimento, numa visão intergeracional que desse suporte ao conceito de formação
para a vida, que alguns estudiosos já aplicavam ao Escotismo, como nos
documenta o próprio B-P nos seus escritos de 1937, bem como as diversas
reuniões nesse sentido realizadas entre os mais destacados dirigentes, que
vieram a concretizar-se no estabelecimento de princípios e regras que levaram à
criação, em 1953, de uma instituição internacional dedicada à intervenção dos
adultos em acções escotistas, em cuja fundação a Fraternal participou.
E não esqueçamos que aquela instituição, a que hoje
chamamos International Scout and Guide Fellowship (ISGF), que alberga mais de
60 mil indivíduos, desenvolvendo-se por 106 países, foi preparada inicialmente
no âmbito da própria Organização Mundial do Escotismo e com a participação de
alguns dos seus principais dirigentes.
Portanto, não foi por acaso, nem apenas pelas
dificuldades que então se sentiam para criar qualquer tipo de associação
cívica, que a Fraternal dos Antigos Escoteiros nasceu dentro da AEP e ali se
manteve durante vários anos. Foram as suas convicções comuns e a necessidade de
interajuda para desenvolver e divulgar um Movimento, que se afirma de formação
integral no crescimento do indivíduo como cidadão consciente e útil e prestável
na sociedade, perseguindo os mesmos ideais de serviço ao próximo e tendo como
objectivo principal a formação das crianças e jovens.
Trabalhando juntas, socorreram-se mutuamente em
momentos difíceis, criando afinidades e desenhando caminhos paralelos, foi esta
a postura, durante muitos anos, de ambas as associações, mesmo depois de, para
corresponder à natural evolução do Escotismo e às directrizes internacionais, a
Fraternal se ter autonomizado, vindo a adquirir personalidade jurídica no ano
de 2000, ou alterando a sua designação em 2012.
São disso testemunho os diversos protocolos que têm
vindo a ser estabelecidos, ao longo dos anos.
Manifestando a nossa satisfação e o venerado
respeito que nos merecem os acontecimentos históricos vividos pelas duas
associações e as figuras maiores que os caracterizaram ao longo dos anos, não
pode a direção da Fraternal deixar de manifestar a esta assembleia a sua
estranheza e desgosto perante algumas posições de alheamento, de hostilidade
até, que se têm observado em declarações de alguns dirigentes e que estão
subjacentes nas propostas de alteração aos Estatutos da AEP apresentadas a esta
Conferência Nacional, no que concerne ao relacionamento entre os Escoteiros de
Portugal e a Fraternal Escotista de Portugal.
Não interferiremos, como é óbvio, nas decisões
desta Conferência, mas, cumprindo aquilo que já é tradição nestas nossas
intervenções, vamos deixar aqui o nosso alvitre e, com a segurança que nos
transmite a nossa experiência de uma longa vida ao serviço do Escotismo, chamar
a atenção dos dirigentes aqui presentes para os inconvenientes do egocentrismo
que parece estar a instalar-se no espírito de alguns dirigentes da AEP,
transferindo para causas externas os problemas com que esta associação se
debate, nomeadamente na área de recursos adultos.
A
Fraternal Escotista de Portugal existe, com todas as suas dificuldades, mas afirma-se
parceira dos Escoteiros de Portugal no duro trabalho da divulgação e
desenvolvimento do Escotismo, em prol de uma melhor educação cívica das nossas
crianças e jovens. E dissemos parceira, não concorrente, pois não disputamos
qualquer espaço aos Escoteiros de Portugal.
A Fraternal é uma
associação de adultos, vocacionada para aqueles que
terminaram o percurso educativo proposto pelo escotismo, e não tendo condições
ou disponibilidade para poder ser dirigentes, desejam continuar a fazer o caminho
de desenvolvimento pessoal, enquanto adultos responsáveis, e o queiram fazer
num ambiente impregnado dum conjunto de princípios e valores com os quais se
identificam e que estão contidos
na Lei e no Compromisso Escotista que prometem cumprir e respeitar. E
este caminho e vivência é valido também para os adultos que não tiveram a
oportunidade de ser escoteiros na sua infância.
Continuamos, pois, dispostos, a fornecer uma rede
social e de desenvolvimento pessoal e, dentro do possível e sempre que nos for
solicitado, a apoiar os Grupos de Escoteiros que são as verdadeiras comunidades
educativas onde o escotismo acontece.
Por isso, não pode
deixar de nos entristecer e ofender a peregrina ideia de se criar dentro da
Associação dos
Escoteiros de Portugal um Órgão nacional chamado Fraternal dos Antigos
Escoteiros, ideia retrógrada e desenquadrada nas orientações internacionais,
parecendo querer-se com ele promover concorrência às associações escotistas de
adultos já existentes, entidade que, desde logo, se apresenta desleal porque
partilhará dos apoios do Estado exclusivamente dedicados aos jovens, ao mesmo
tempo que estranha aos regulamentos da WOSM ou da ISGF.
Mas as decisões serão vossas. Aguardaremos com
serenidade e escotistamente confiantes os resultados desta Conferência.
Queremos desejar-lhes, muito sinceramente, uma
excelente jornada escotista.
Boa caça.
A Direção da Fraternal
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