domingo, 9 de janeiro de 2011

Escrever escoteiro não é erro nem ignorância

Por Mariano Garcia


O Companheiro Mariano Garcia ao centro na imagem

Passado mais de um século sobre o aparecimento do Scouting em Inglaterra e prestes a comemorarmos 100 anos da sua introdução em Portugal (1911), as duas Associações dedicadas ao Movimento vão vivendo lado a lado, distintas nas suas orientações e programas, mas unidas pela força do Método e Princípios que as inspiram, numa prática indiscutivelmente válida, ao serviço da formação individual, cívica e social dos nossos jovens, a quem ensinam deveres para com o próximo, a sociedade e para consigo próprios.

Se abstrairmos o proselitismo de uma delas, exclusivamente reservada aos membros da Igreja Católica, onde constitui a verdadeira força juvenil, podemos afirmar que ambas as Associações cumprem bem o seu papel de pioneiras na formação e educação cívica da nossa juventude, juntando-se as suas unidades em frequentes actividades, quer sejam de preparação ou lazer, quer sejam de serviço público ou social, onde bastas vezes dão exemplos de compostura, ou mesmo de abnegação e coragem.

Por tudo isso um “velho escoteiro” se pode orgulhar, achando sempre poucos os muitos milhares de escoteiros que alegremente se associam e confraternizam em Grupos e Agrupamentos por todo o nosso País, dando, quase sempre, exemplos de conduta pessoal e de cidadania, merecedores da simpatia com que geralmente são acolhidos por onde passam, sempre garbosos e prestáveis ao seu semelhante. Se mais fossem, talvez o seu exemplo conseguisse transmitir melhor os valores do Movimento à sua geração, tão revoltada e descrente das suas próprias capacidades.

Para tanto, o Movimento de BP teria de ser melhor entendido pelo cidadão, em geral, e pelas instituições, em particular.

Mas, para que esse entendimento se verifique é preciso que nos esforcemos em clarificar as nossas posições e esclarecer o porquê de algumas diferenças, as quais deveremos esbater, ou assumir com a convicção de quem serve a verdade e a unidade dos nossos Princípios.

Tema recorrente, causador de confusões e dúvidas é a dupla grafia da palavra escoteiro ou escuteiro.

De tão antiga esta discussão, talvez ela nem merecesse mais referência, não fora a absoluta ignorância nesta matéria que sempre revelam os jornalistas portugueses, ou o excessivo número de emendas nos meus escritos, como se o facto de uma palavra genuinamente portuguesa, pois faz parte do léxico português desde o século XVI (aquele que viaja sem arma e sem bagagem), virar erro gramatical só por ter deixado de aparecer nos dicionários da nossa língua, a partir do Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro. Não obstante os brasileiros manterem-na válida e bem esclarecida, outro tanto não aconteceu em Portugal, por razões que nunca consegui perceber, já que é bem comum na nossa língua o uso de palavras diferentes que significam o mesmo.

Claro que a abordagem do tema remete-nos, quase sempre, para a teorização desta dicotomia, por vezes de forma menos precisa ou isenta de imparcialidade.

Por isso, dispenso-me aqui de qualquer dissertação sobre as razões que estão na génese dessa alteração da língua portuguesa, nem da decisão política que a justificou.

O que está feito, está feito, a menos que um dia possa ser corrigido. Mas, importa clarificar, de modo a que ninguém, preso da sua ignorância, chame de ignorante os outros ou “corrija” o que não desejamos seja “corrigido”.

a)Em 1913, nasceu a Associação dos Escoteiros de Portu-gal (AEP), assim chamada logo após um grupo de pessoas ligadas à cultura, entre os quais os ilustres filólogos António Sá Oliveira e Eduardo Moreira, terem procurado no léxico português a palavra que melhor traduzisse a expressão inglesa “scout”, usada até então.
b)Em 1924, surge o Corpo Nacional de “Scouts”(CNS), que em Novembro de 1934 passou a chamar-se Corpo Nacional de Escutas (CNE), nome que continua a identificar aquela Associação.
c)Os membros da AEP desde sempre foram conhecidos por escoteiros.
d)Os membros do CNE, inicialmente tratados por “scouts”, cedo começaram a ser conhecidos por escutas, designação que hoje prevalece de mistura, desde os anos cinquenta, com a palavra escuteiro, cuja raiz parece vir apenas da própria palavra escuta.


Conclusão: fiquemos, cada um, com a designação que escolheu para si, num direito inalienável que nos dá a nossa democracia, mas que ninguém se arrogue ao direito de “corrigir” ou apontar de errado o que está certo.
E que a fraternidade do nosso Movimento nos una em tudo o mais que orienta o nosso IDEAL.

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